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H.


Havia 17 gatos vivendo no apartamento de H.
17, já que o gato mais velho que completava os 18 acabara de morrer. E H. está enlutada desde então. Todo dia às 9h acende uma vela a São Francisco. Diz que os 17 não suprem a falta que Frederico lhe faz. Mas ainda acho que isso ela diria de cada um deles. Ainda mais se fosse de Georgeana, a gata que junto com Frederico dera à luz a todo o restante da bichanada. No entanto, mesmo com Georgeana e os outros 16, H. ainda se sentia só.

Ficou órfã muito cedo. Morou com duas tias solteironas até atingir a maioridade. Aos 18 mudou-se para o centro e já podia se sustentar com o que ganhava como auxiliar em uma floricultura do cemitério local. Bem, ela podia ser jovem, mas não era tola. Apesar de ter seus lutos e traumas, escolhera conviver com quem partilhasse da sina de ter de sofrer a dor da perda. Sua vida cheira a crisântemo e vela de sétimo dia.

Aos clientes que entravam na loja, viúvas, pais e mães inconsolados e órfãos, como ela, H. servia uma xícara de chá de camomila com uma colherinha de açúcar refinado, para tentar adoçar-lhes a amargura das lágrimas. Quando entrava uma moça que também perdera os pais, H. oferecia um botão de rosa branca, por sua conta. Queria ter tido a chance de enterrar a mãe. Era muito pequena na ocasião de sua morte. Mas o antigo perfume que sentia em seu abraço ainda permanecia preso no olfato da memória.
Frederico era o nome do meio de seu pai. Por isso, no enterro do gato, sentiu cumprido o seu dever.

No fim do dia, H. volta ao seu refúgio. Dá de comer aos gatos, lava as louças, põe-se à mesa para jantar. Às 19h, senta-se à janela e, observando o mundo lá fora, imagina novas possibilidades para sua própria história. Até que o último "e se..." a faça adormecer.


quantos anos cabem em 365 dias?

e foi caverna e foi luz e foi luto e foi luta e foi corpo velado e foi sorriso velado e foi vela no bolo e outra no caixão e mais uma, e mai...