Quem sou eu

Minha foto
86400 segundos/dia em busca de respostas. ignorance is bliss

a caixa

Aí uma hora lá meu professor me perguntou de minhas ambições para o futuro. Menti. E tô deprimida desde então.
Aí escrevo. Desligo os alarmes dos despertadores, atraso as horas do relógio de pulso e finjo que tenho tempo para isso.
Insistem em colocar-me numa caixa. Minha essência, meus sentidos, o que me faz ser eu, e também o que hei de ser, foram soltos quando abriram aquela de Pandora - e não há volta. Mas insistem.
Padronizam-me, comprimem-me, Times New Roman, tamanho 12, espaçamento 1,5.

Os pés já doem, as unhas se encravam, os calos apertam - já não suportam mais fazer o caminho forçado, desviar daquele que os chama.
E os lábios se cerram. O bom e sonoro "não" dá lugar ao suspiro conivente.
As bocas alheias soltam "bravos!", mas e eu? As mãos se encolhem no aplauso, é impossível desnudar os dentes, é impossível ser sincero. Não é.
E não sou eu quem lhe falo, não sou eu que materializo essas palavras no papel cetim. Ponha a culpa na tinta, não no punho.

No meio do caminho eu estava e eu era a pedra. Na pedra do caminho eu estava e o meio era eu. No caminho das pedras eu tentei me encontrar e parei bem no meio. Desisti? Não sei. Não sei se vou, se fico, se prossigo na caminhada rumo ao incerto.
Então escrevo.
Escrevo pois não há céu nem inferno. Não sinalizam o caminho para o lado certo, talvez o oposto seja a melhor escol(h)a do viajante. Diga: "Não", mas falo "trinta e três", e até hoje não entendo porque sofro de asma.

O dever me chama, o alarme apita, mas eu tinha desligado, sei que tinha. O cobrador bate à porta e eu não tenho cartão de crédito - vida injusta essa para os pobres correntistas dessa maré sem placas, sem mapas, sem cartas. Ele bate na porta mas é minha cabeça que dói.
O que o futuro lhe reserva, o que serás quando crescer? Ó, relógio infeliz, cale a boca e me faça feliz.
Não há tempo, há trabalho, sei que há. Não existem respostas, porém - a vida não é tabuada.

Diga não, menina burra. Diga não. Palavra simples de três letras mas que cabe o fim e o início. Talvez seja nela que eu me caiba, não na caixa que insistem em me abrigar.
A tinta vai se acabando tal como as folhas do caderno preto, tal como os cabelos lisos da menina burra, da menina que não sabe dizer não, da menina que escreve sonhos com nanquim, mas mente sobre eles com os lábios.
O que foi dito o vento leva... E o escrito?
_____________________________________________________________LT

quantos anos cabem em 365 dias?

e foi caverna e foi luz e foi luto e foi luta e foi corpo velado e foi sorriso velado e foi vela no bolo e outra no caixão e mais uma, e mai...