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-apelo às celeumas da adjacência-

Querido vizinho do andar de cima, cujas terças-feiras são tomadas por acaloradas discussões filosóficas de uma espécie de confraria de cidadãos no alto de seus "-entas": por favor, leia este meu apelo, bem aqui do quarto andar (ou apenas tente usar suas habilidades telepáticas):

-Encontro-me em meio à elaboração de um artigo, ou ao menos na tentativa esforçosa, sobre um tradutor húngaro, que por acaso, o senhor, regente da sessão, aventurou-se em declamar aos seus pobres confrades umas abobrinhas no idioma do meu autor-objeto-de-trabalho, fazendo-me pausar, mais uma vez, meu fastidioso trabalho. Acho sobremodo interessante vossa preocupação com os linguajares, vossa filosofia astrofísica, vossa metafísica agnóstica e todo esse bla-bla-bla acropóleo que o senhor insiste tanto em declamar, a plenos pulmões, como se estivesse em uma arena helenística. Mas, por outro lado, considero excessivamente irritante o fato de que, às 23h de uma terça-feira do mês de agosto, os senhores não tenham aborrecidas senhoras esperando-lhes em vossos leitos majestosos, para que os façam desconfiar do infortúnio que causam a todos os demais residentes deste prédio de ter de escutar-lhes, involuntariamente, as subjetivas e abstratas palestras. Peço, encarecidamente, que não perturbem e nem mais interrompam meu raro fluxo criativo, que por acaso, neste ensejo, não se aplica a um mero distrativo, mas a um ofício requerido por minhas pesarosas atividades acadêmicas. Considero, de igual modo, interessantíssimo o fato de que o senhor tenha feito sua dissertação de mestrado acerca das inconsistências aristotélicas associadas à obra de um aiatolá-pra-lá-de-Bagdá (por isto, meus  parabéns), mas, enquanto seus companheiros lhe exaltam por tal feito, existe uma pobre coitada que também quer alcançar o tão almejado diploma de mestra e, para tal, necessita (ora-vejam-só) de vossa generosa colaboração para o cumprimento de suas obrigações. Meu conselho, para os nobres senhores da mais alta patente intelectual da nata brasiliense, é este (apesar de o senhor ter acabado de citar o gasto provérbio que diz que se aquele fosse bom, não se dava, se vendia): da próxima vez, procurem uma boa e velha mesa de botequim, de preferência, bem distante desta área residencial.

Grata,

Vizinha do andar de baixo.
05/08/14

-o único mal irremediável-



nossa família foi surpreendida por uma visita inesperada na última segunda-feira, dia 28 de julho. bateu logo à porta do filho mais novo de minha avó materna. dor sem tamanho. descumpriu o sentido natural da vida. ele suspirou - e com a visita partiu.
ela não cumpre os nossos horários.
não obedece aos índices de expectativa de vida.
não marca seu compromisso quando nos convém.

Suassuna, também por ela visitado dias antes, escreveu uma vez, sobre a nossa visitante:

"[ela] é o único mal irremediável, (...) a marca de nosso estranho destino sobre a terra, (...) fato sem explicação que iguala tudo que é vivo num só rebanho de condenados (....)"


mas a Alguém ela é submissa.
Àquele que nos conforta, consola e tem o controle de tudo em Suas mãos.



quantos anos cabem em 365 dias?

e foi caverna e foi luz e foi luto e foi luta e foi corpo velado e foi sorriso velado e foi vela no bolo e outra no caixão e mais uma, e mai...