e foi caverna
e foi luz
e foi luto
e foi luta
e foi corpo velado
e foi sorriso velado
e foi vela no bolo
e outra no caixão
e mais uma, e mais uma...
e foi pena seca
e foi lágrima molhando o papel
e foi papel enxugando a lágrima
e foi medo
e foi alívio
reconhecendo conhecidos
desconhecendo estranhos
sonhando baixinho
calando alto
foi ruptura
foi remendo
foi um alô
e um nunca mais
foi tela sem tato
foi tato sem toque
foi álcool na pele
e também na garganta
foi desespero em conta-gotas
foi esperança injetável
mudança de rota
abrindo cancela
fechando janela
trancando a porta
quebrando regra
regrando a compra
contando os contos
quitando débitos
contraindo dívidas
distraindo contratos
assinando sentenças
celebrando pactos
abrindo exceções
selecionando cotas
desistindo de metas
sobrevivendo dose a dose
dormindo acordada
deitada em claro
chorando no escuro
destacando a folha do calendário
já passam de centenas
já são milhares
quarentenas, quarenteras
anos em um
limbo interminável
purgatório do século
peneira de condenados
triênio contaminado
vida que persiste
insiste
persevera
em quantos dias cabem uma era?