March, 19th
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Hoje a neve voltou, surpreendendo a todos... Quando eu pensava que daqui a poucos dias não precisaria mais de vestir duas calças, duas meias, botas, luvas e casacos pesados... A neve volta, desafiando nossa rotina.
E eu, correndo pra pegar o metrô, já sabia que iria me atrasar.
Paro num café para a primeira refeição do dia. Terei de esperar o segundo horário mesmo...
Para poupar-me as soletrações, aqui me chamo "Laura" (que na pronúncia local é "Lóra"). Peço o bom e velho capuccino e umas tostadas para acompanhar. Subo as escadas, e lá está ele: o local perfeito para a mente fluir. A mesinha redonda, que mal cabe o caderno, bem rente à janela que me apresenta uma bela vista do dia anevoado.
E enquanto beberico meu café quente, observo a neve cair de encontro ao vidro, vejo as máquinas na rua desobstruindo a passagem que a neve tomou, admiro os telhados dos prédios de tijolinhos vermelhos de Harvard, cobertos desse "algodão de gelo", as pessoas apressadas e empacotadas saindo da estação de metrô... Ouço os burburinhos da mesa ao lado, a música folk tocando ao fundo...
E penso: "Meu Deus... será que eu mereço mesmo tudo isso?"
E admito, constrangida: "Sabe, Senhor... isso aqui é muito mais do que tudo que eu já pedi".
Fico feliz o dia todo, pois confirmo que Ele escuta sempre... Mesmo os sonhos mudos mais escondidos em nosso coração...
Quem sou eu
Diário de Bordo 3 - How much???
March 1st
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- Então tudo se resume a isso agora?
Se você nunca foi aos EUA, nada que eu te contar fará sentido: Só mesmo VIVENDO essa experiência. Isso eu digo porque as pessoas já diziam isso pra mim, mas eu pensava: "Não... não é possível. Não é esse exagero todo!"
Mas eu digo, queridos: É ainda pior do que eu imaginava. O comércio norte-americano não cria apenas o desejo; ele cria a NECESSIDADE LOUCA de TER.
Se você não se controlar, não ponderar, não deixar a voz da consciência falar mais alto, meu querido, você roda.
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March, 15th
Isso eu disse um dia antes de ir pra uma outlet.
É, caros amigos....
Já rodei.
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- Então tudo se resume a isso agora?
Se você nunca foi aos EUA, nada que eu te contar fará sentido: Só mesmo VIVENDO essa experiência. Isso eu digo porque as pessoas já diziam isso pra mim, mas eu pensava: "Não... não é possível. Não é esse exagero todo!"
Mas eu digo, queridos: É ainda pior do que eu imaginava. O comércio norte-americano não cria apenas o desejo; ele cria a NECESSIDADE LOUCA de TER.
Se você não se controlar, não ponderar, não deixar a voz da consciência falar mais alto, meu querido, você roda.
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March, 15th
Isso eu disse um dia antes de ir pra uma outlet.
É, caros amigos....
Já rodei.
Diário de Bordo 2 - Impressões
01/03/2013
Hingham, MA
7:13 a.m.
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Depois de uma tarde/noite no shopping, cheguei em casa, dormi e here I am.
Cedinho, tomei café num Starbucks e ao longo do caminho tive as visões mais de contos de fadas que já tive na vida. Cenários de shoppings quando é época de Natal. Mas a neve não é de espuma sintética.
Viemos para a residência de um médico nefrologista. Que casa linda e agradável. Na beirinha do mar que encontra a cidade. Aproveitei a visita para fazer aquilo que mais gosto nessa vida... (subentende-se.)
Na maioria das vezes, escrevo quando estou triste, reflexiva, quando algo dramático me chama a atenção... Mas quando contemplo essas coisas belas, é inevitável: fico sem ar. Meu cérebro não oxigena as idéias. E minha escrita volta aos tempos do primário. Mas afinal, é exatamente assim que me sinto: uma criança diante de um parque de diversões.
É... acho que minha Disney é justamente essa... O frio (de verdade, não o "fake frio " do Brasil), a neve, o silêncio... o café... a lareira... tão, tão... (como dizer?)... breathtaking!
- Mas ainda quero ir a Disney!
Mas agora que estamos aqui (eu e você, Moleskine), creio que partilhamos da mesma opinião: Aqui não tem castelos, príncipes encantados, feiticeiras, magia... Mas é tudo o que eu idealizei em uma aspiração de princesa na torre!
Ai, meu Brasil... eu até gosto de você... mas todo o seu sistema me faz tão, tão triste. Eu queria muito que todo o seu potencial fosse aproveitado... Aí sim, iríamos ver...
Lembro-me dos versos de Vinícius: "Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias/ De minha pátria, de minha pátria sem sapatos/ E sem meias pátria minha/ Tão pobrinha! (...)"
Como estamos longe... Como me dá raiva, dói-me os ossos ver como somos humilhados pelos detentores do poder... Como somos enganados, como ficamos contentes por pouco...
Por um instante lembro-me de quando colocaram bebedouros novos na UnB... fiquei contente... Mas gente, o que é um BEBEDOURO diante de tantas outras coisas???
Por isso não me sinto mal em querer trocá-lo. Não me sinto mal em sonhar com minha diáspora. Sabe... a terra do Tio Sam tem sabor de leite e mel.
Hingham, MA
7:13 a.m.
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Depois de uma tarde/noite no shopping, cheguei em casa, dormi e here I am.
Cedinho, tomei café num Starbucks e ao longo do caminho tive as visões mais de contos de fadas que já tive na vida. Cenários de shoppings quando é época de Natal. Mas a neve não é de espuma sintética.
Viemos para a residência de um médico nefrologista. Que casa linda e agradável. Na beirinha do mar que encontra a cidade. Aproveitei a visita para fazer aquilo que mais gosto nessa vida... (subentende-se.)
Na maioria das vezes, escrevo quando estou triste, reflexiva, quando algo dramático me chama a atenção... Mas quando contemplo essas coisas belas, é inevitável: fico sem ar. Meu cérebro não oxigena as idéias. E minha escrita volta aos tempos do primário. Mas afinal, é exatamente assim que me sinto: uma criança diante de um parque de diversões.
É... acho que minha Disney é justamente essa... O frio (de verdade, não o "fake frio " do Brasil), a neve, o silêncio... o café... a lareira... tão, tão... (como dizer?)... breathtaking!
- Mas ainda quero ir a Disney!
Mas agora que estamos aqui (eu e você, Moleskine), creio que partilhamos da mesma opinião: Aqui não tem castelos, príncipes encantados, feiticeiras, magia... Mas é tudo o que eu idealizei em uma aspiração de princesa na torre!
Ai, meu Brasil... eu até gosto de você... mas todo o seu sistema me faz tão, tão triste. Eu queria muito que todo o seu potencial fosse aproveitado... Aí sim, iríamos ver...
Lembro-me dos versos de Vinícius: "Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias/ De minha pátria, de minha pátria sem sapatos/ E sem meias pátria minha/ Tão pobrinha! (...)"
Como estamos longe... Como me dá raiva, dói-me os ossos ver como somos humilhados pelos detentores do poder... Como somos enganados, como ficamos contentes por pouco...
Por um instante lembro-me de quando colocaram bebedouros novos na UnB... fiquei contente... Mas gente, o que é um BEBEDOURO diante de tantas outras coisas???
Por isso não me sinto mal em querer trocá-lo. Não me sinto mal em sonhar com minha diáspora. Sabe... a terra do Tio Sam tem sabor de leite e mel.
Quem sabe um dia? Hein?
Quem sabe um dia...
Em um mês eu acordo... volto ao meu Egito... ah... somos tão castigados por essas farsas e mentiras que nos apresentam...
Mas eu sei, Brasil. Eu sei. Como NOSSA gente, NÃO TEM IGUAL!
Sou brasileira de pai, mãe e registro geral...
Mas meu coração não possui territórios demarcados...
Vinícius também diz, nos versos de Pátria Minha: "Porque eu te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho/ Pátria, eu semente que nasci do vento (...)"
Meu Reino não é aqui.
Mas por enquanto, posso sonhar...
LT
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