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Saudades do inacontecido

Bom dia!
Vou coar o café.
Vou pôr a mesa, vai ter queijo minas, vai ter pão caseiro e manteiga de leite. Forte ou mais docinho?
Vovô só bebe se for muito forte.
Vou pôr um vasinho com as florzinhas do campo que acabei de colher ali na área verde. Vai ficar bom. Que tal ficou?

Gosto daquelas flores secas que vendem lá na Catedral. São tristes e alegres ao mesmo tempo. Cheiro de outono...

Sério?! Também gostei daquele filme de ontem. Engraçado é que dessa vez você nem dormiu no sofá!
Vou servir mais uma xícara. Tá do jeito que eu gosto: sinto o gosto do pó e um leve docinho no final.

Tava pensando, e se a gente pintar as janelas de amarelo? Tá faltando uma corzinha aqui na sala.
Vou plantar uns temperos. Bom mesmo é cozinhar e pegar manjericão direto do vasinho, amassar a pimenta fresca, salpicar alecrim colhido na hora, verde-novo.

Tá bom de você cortar o cabelo. E fazer essa barba. Comprei aquele pós-barba que lembra o cheirinho da alfazema. Eu gosto.

Ontem fui naquela padaria que íamos quando garotos, quando íamos só pra olhar o que os ricos gostavam de comer no café-da-manhã. Comprei uma baguete de ervas finas com gergelim, junto com uma compota de laranja e geléia de mirtilo. Ai, que dia que imaginaríamos nós dois comprando essas coisas de gente bacana. Mas me contive, foi só o que levei. Ah, e uma pecinha de queijo brie, porque fiquei sem graça com a moça do caixa.

Passei cartão no crédito. Esse mês estarei mais folgada. Já vão as últimas parcelas do aluguel da casa de verão. Aliás, que viagem, hein! Saudades de lá...

Sim, lembro bem daquele dia que fez que ia chover mas não choveu! Que bestas somos nós! Mas foi bom ter ficado em casa... foi bom mesmo.

Ai, ai... que tal agora irmos dar uma volta no Parque da Cidade? Sabe, adoro ficar no espelho d'água, ver a vida passar. E as nuvens também. E deitar naquela toalhinha quadriculada com vasos de flores bordados... esquecer um pouco da vida cinza dos dias de semana. Ah, foi por isso que passei na padaria. Saudade dos nossos piqueniques.

Quem sabe hoje você não me ensine a andar de bicicleta? Eu prometo que não vou amarelar.

Eita, falando em amarelar, não vamos esquecer de passar na loja de tintas para comprar a tinta amarela da janela.

Ai! Falei pra prestar atenção na xícara, que ela ia virar! Dê cá sua camisa, senão vai manchar.

Pronto, tá quarando. Põe aquela azul clara, fica bem com seu tom de pele.

É, é mesmo.... meu café esfriou.
Acho que é melhor acordar pra coar mais um pouco.

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Cenas da UnB

Original em 19 de novembro de 2012


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Neste momento estou presa. Presa na entrada da Ala Sul do ICC.
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Todos conglomerados esperando a chuva passar. E que chuva!
Em um lugar em que todos passam, entram e saem a passos apressados para não perderem o horário da aula, da reunião, do almoço... E a chuva, sem nenhuma cerimônia, ordena a todos que percam suas horas... Talvez para que pudéssemos parar de olhar o outro pelos calçados e indumentárias e passar a olhar nos olhos...
Um grupo resolve parar e comprar um café. O zumbido das conversas frenéticas é embalado por um aluno tocando trompete nas escadas do subsolo. And all that jazz se esvai na fumaça dos cigarros...
É, dona chuva, você conseguiu parar todo mundo... até a mim.

E é aí que eu vejo a fragilidade do ser humano... Os mesmos que aqui estão são os que mais dizem que 'quem tá na chuva é pra se molhar' e que batem a mão do peito em protesto por 'não serem feitos de açúcar'.
Só a chuva mesmo para lavar e mostrar a ironia do ser humano. E quem disse que guarda-chuva adianta de alguma coisa?
- ninguém gosta de molhar os pés.

E o trompete segue sua melodia triste... A fumaça dos cigarros esvaindo no ar... E a chuva continua, sem piedade... Até que dois olhares possam se cruzar...

LT
19/11/12
17h05

quantos anos cabem em 365 dias?

e foi caverna e foi luz e foi luto e foi luta e foi corpo velado e foi sorriso velado e foi vela no bolo e outra no caixão e mais uma, e mai...