Quem sou eu

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86400 segundos/dia em busca de respostas. ignorance is bliss

((o relógio circadiano))


naquela manhã tive uma verdadeira aula de anatomia e fisiologia do sistema nervoso. [ainda existem médicos que não te atendem conforme o que o convênio lhe paga, louvado seja.]. relembrei daqueles termos primários da biologia secundária... encéfalo, córtex cerebral, hipotálamo, bulbo, cerebelo... e nossa... os neurônios, neurotransmissores... quanto tempo, como vão? - nada bem.
"acontece que a senhorita, com toda essa rotina irregular, não conseguirá garantir o pleno funcionamento de cada um desses. os exames acusam que suas taxas desse neurotransmissor aqui está baixa, enquanto desse aqui está alta. precisamos garantir um equilíbrio, para o seu próprio bem."
"mas... mas doutor... como...?"
"veja bem. 10% resolveremos com o medicamento x. outros 10% resolveremos com o medicamento y. 15% resolveremos com exercícios físicos. e mais 15% com uma boa qualidade de sono. daí já temos quanto?"
"50%, doutor."
"e o que faremos para garantir os outros 50%?"
"não me diga que é com dieta" (risos - e extremo temor pela concordância)
"não, não... é com o seu querer. você querer ter uma qualidade de vida melhor". (ufa)
"ah... tá", disse, quase revirando os olhos pela preguiça que tenho do papinho autoajuda.
"então," disse o dotô, assinando a receita, "estamos entendidos?"
"sim, doutor."
___________no mês seguinte______________
"olha, não adiantou nada, continua que nem um zumbi de manhã, come mal, dorme lá pras tantas da madrugada, e ainda diz que o remédio está causando pesadelos. olha, nem sei mais o que faço." - isso é o que dá levar o pai para te acompanhar na consulta.
"mas lorena... a senhorita é tão jovem, tão inteligente... por que não se esforça para regular seu relógio circadiano?"
"circa-di-quê?" - pensei. mas calei e consenti.
"a boa qualidade de sono afeta diretamente na sua homeostase. Quando você dorme bem, seu sistema imunológico é fortalecido, sua memória é reforçada, há também a manutenção da sua musculatura e do sistema endócrino..."
"mas...eu.não.consiiiiiiiigoooooooooooooooo" - era o que eu queria dizer, e o que meu cérebro gritava. mas ao invés disso, menti (parabéns, lorena): "o senhor tem razão, vou mudar. noite foi feita para dormir. o dia para acordar. acordar cedo e dormir cedo todos os dias! assim prometo."
__________no mês seguinte______________
"hum... suas olheiras te entregam. não precisa mais dizer nada. vamos entender novamente como funciona o seu cérebro?" - aula nº 2 do sistema nervoso -
"olha, vou ser sincera, doutor. não produzo de manhã. não adianta. só consigo me concentrar à noite, eu sei, é errado, eu odeio isso, eu queria que fosse diferente, mas é maior que eu."
"vamos tentar mais uma vez. você é capaz, sei que é. reduziremos as doses dos remédios, você vai se acostumando aos poucos..."
-horas de relutância depois-
"está bem".
__________nesse mês___________
o remédio acabou
o sono voltou
seu dotô remarcou
-e agora, Lorena? e agora você?
"não vai dar esse mês. to muito ocupada" - disse à secretária.
muito ocupada consertando o relógio circadiano - o que eu mesma inventei...


15 de agosto

mea culpa
mea culpa
mexi nas panelas do let
só pra fazer um cafezinho
e acordar minha gente;
fui furiosamente exortada
por ser uma mera discente.
mea culpa
mea culpa
da próxima vez
peço licença
(talvez com uma licenciatura)
e assim como não farei mais o café
não lhes causarei outra vez
tamanha amargura
- assim prometo.



((tem algo errado com meu bom gosto))

eu achava que tinha bom gosto
não que fosse melhor que o de ninguém
mas que tinha boas e merecidas razões para sê-lo

foi então que percebi.
meus escritores favoritos: nordestinos
meus poetas favoritos: nordestinos
meus cantores nacionais favoritos: nordestinos
os artistas que considero mais brilhantes: nordestinos
meus professores mais marcantes: nordestinos
meu tema de mestrado: uma nordestina
minha mãe, tios, avós: nordestinos

até que eu fiquei sabendo
que nordestino é burro, pobre, miserável, preguiçoso [e vota mal, pondo todo resto do país "que se aproveita" a perder]

tem algo errado com meu bom gosto.
tem algo errado com meu sangue.


GRATIDÃO

a cada vela nova no bolo, é inevitável fazer um apanhado de tudo o que se passou desde quando nem bolo havia.
uma espiral sem fim. idas e vindas, um trânsito constante, uma estação de trem fervilhante. de gente, claro.
quantas pessoas "pra sempre" que hoje são rostos perdidos na multidão.
quantas pessoas "momentâneas" que te demonstram carinho e afeição jamais requeridos ou esperados - e que podem permanecer!
e a dinâmica do crescimento - felizmente (ou não), vegetativo - de amigos que chegam e que permanecem (fora aqueles que se vão).
é bom. e perceber esse "fenômeno" sem um ar de melancolia e sofreguidão, ao meu ver, é sinal de amadurecimento. é reconhecer a lógica (ilógica) da vida.
amadurecer pra mim, é também reconhecer que você nunca está madura. e essa é uma das lições mais difíceis de se aprender.
e aprender... é aquela dádiva que se renova a cada manhã.
sou grata por tudo o que tenho. sim. eu sou mesmo. parando pra pensar... é, eu sou. abençoada. cada detalhezinho ínfimo do meu existir me prova isso cada vez mais. eu preciso ser mais grata. e enquanto me restar humanidade, creio que sempre estarei precisando.
uso esta oportunidade para agradecer a cada um dos transeuntes dessa estação. ao maquinista do trem. aos de dentro, aos de fora.
grata aos que se foram.
grata aos que comigo seguem viagem.

23!



LT

Faxina nas papeladas - ACHADOS apocalípticos

3 de julho de 2012

"Como fazer algo útil em plenas 'GRÉRIAS' [greve+férias] - Livrando sua vida do ócio em um ano escatológico", por Lorena Timo.



1) "Em 2012, o mundo, enfim, verá seu fim". O mundo está acabando. - Estou realizada?

- NÃO. O ser humano nunca atingirá seu status de plena realização. Nem os monges tibetanos. Nem o Papa. Nem mesmo o Chuck Norris.
Estudos comprovam que o homem, diferente dos macacos, não se contenta com apenas bananas no café-da-manhã. Vale também dizer, que semelhante aos camaleões, o ser humano gosta de mudar. Nem que seja apenas no cardápio ou na cor da cueca, por exemplo.
É por isso que até os milionários/bilionários/zilionários não estão realizados. Porque não tem dinheiro no mundo que compre a plena realização. E não há criatividade que barre minha dose de redundâncias e frases clichês.
Falando em redundâncias, a vida é um ciclo sem fim - com a licença do Rei Leão. E quando você pensa que está no ápice, no topo, por cima da carne seca, chega o fim da cachoeira e você cai em queda livre na frustração novamente. E falando em FRUSTRAÇÃO, ainda não superei o fato de ter escrito "FRUSTAÇÃO" em um trabalho da escola - motivo de chacota até então - como também não superei o espasmo produtivo que tive neste momento por causa da caneta que falhou e do telefone que tocou. 
Concluindo, não, não estou realizada no ano de 2012. Portanto, se esse ano acabar mesmo em 21 de dezembro de 2012, estarei triste, mesmo sabendo que o mundo não mais existirá. Por que ficarei triste? Ora, porque não terei casado, tido 2 lindos filhos, uma casa em Londres e uma cadela chamada Blossom. That's it.

2) O que responder na questão mais clichê - "O que você faria se hoje fosse seu último dia na Terra?"

- "Eu invadiria uma loja de sapatos". Que mulher nunca pensou nisso, não é mesmo? Pois bem. Creio em algo muito bonito, muito puro, muito sincero e verdadeiro. Creio na alma, porque no fim das contas, ela que permanece, não essa casca dura que nos envolve. A melhor resposta, na minha nobre opinião, é que você deve procurar coisas que façam sua alma, de fato, eternizar.
Perdoe seu vizinho satanista, a manicura fofoqueira, o ex-professor de Química e o de Física também. "Faça o bem, não importa a quem". Sorria para o seu pai, para o padeiro, para o cobrador de ônibus. Sorria para o ônibus! A melhor forma de se relacionar com o ser humano é sorrindo. Uma professora da faculdade já dizia que um sorriso resolve qualquer problema. Escove as canjicas! [Finja ser] Seja feliz!
Declare o seu amor. Tem coisa pior do que morrer sem dizer ao seu platônico do jardim de infância que você não o/a ama? Grite pelas ruas, faça serenata, compre flores. Se você ouvir um "não" de volta, não importa. Você não terá outro dia para morrer de fossa.
Realize o seu sonho/o sonho de alguém. Se o seu maior sonho não pode ser realizado em 24h, pense nos menores. "Carpe Diem".

3) Fiz tudo o que eu queria nesse dia. Mas hoje é dia 22 de dezembro de 2012. E agora?

Levando em consideração que você deve ter pagado muito mico ou cometido muitos crimes no dia anterior, vamos às opções:

3.1 Vá à padaria. Compre 5 pães. Leve para casa. Coma os pães com sua família. Não deixe sobrar. Se sobrar, lance aos cachorrinhos - ou ao menos dê as migalhas a eles. Agora pegue o saco de pães. Meça-os em sua cabeça. Faça dois furos para os olhos e um para o nariz. Nesse caso, furo para a boca não é muito aconselhável. Encarapuce-se com o saco e encare o cotidiano.

3.2 Você se esforçou a vida toda para ser um cidadão do bem. Não é agora que você vai dar pra trás. Entregue-se à polícia. Peça perdão por todos os crimes que o seu alter-ego transformou em realidade no dia anterior. Leve em consideração a magnitude dos delitos:
    3.2.1 Assalto à loja de doces - pena verbal, vulgo "chacota dos praças", mais apreensão da mercadoria.
       3.2.2 Assalto à loja de sapatos - varia de mulher para mulher (ou cor do cabelo) - mas geralmente a pena vai entre rosquinhas para os praças e serviços de limpeza na delegacia.
       3.2.3 Insulto a autoridades políticas - reclusão em regime semi-aberto, aguardando o julgamento para as próximas eleições.
      3.2.4 Sequestro de atrizes/atores famosos para fins de desfrute - reclusão, regime fechado, sem direito a pagamento de fiança. Soltura: quando a mídia esquecer o caso.
        3.2.5 Assassinato da sogra com ocultação do cadáver - o que eu disse a respeito de fazer o bem para eternizar a alma? Pois bem, além de uns 30 anos de cadeia [a justiça é muito injusta, não é mesmo?], sofrerá, no Juízo, a sentença de passar a eternidade onde haverá choro e ranger de dentes [ao lado da vítima]. Para o último caso, no entanto, você ainda conta com o sincero arrependimento [caso ele um dia brote do seu coração], mas com a justiça dos homens, amigo, é isso aí mesmo.

3.3 Suicídio é pecado inafiançável. Nem pense nisso. Esconda os antidepressivos, venenos para ratos, limpa-forno, etc. Não se deixe levar pela tentação de poder morrer. Ninguém mandou acreditar em profecias de civilizações extintas/pagãs. Encare agora as consequências de Yeowah!

3.4 Mude de endereço. De e-mail. De emprego. Livre-se das redes sociais. Se possível, passe no Cartório. Mude seu nome também. Vá para bem longe. E comece uma nova vida como um pacato criador de cabras.

3.5 Recorra ao sobrenatural - procure o Deus que você sempre desdenhou. Fez todas essas besteiras, então é bom que se livre do seu ceticismo também. Vá a uma igreja. Participe dos grupos de oração. Já que você não tem paz alguma em sua vida de agora em diante, ter paz ao menos em sua alma não é má ideia.

4) Conclusão
De nada adianta direcionar sua vida às margens do pensamento dos outros. Cada ser humano carrega seus próprios, pessoais e intransferíveis anseios, e tais não podem ser fomentados apenas para a realização pessoal, até porque, ninguém tem anseios suficientes que os tornem completamente realizados ao longo da vida sem a ajuda do outro... né?
Eu poderia estar matando, roubando ou lendo livros, mas escolhi estar escrevendo essa verdadeira ferramenta para a manutenção do ócio.
Apesar de cursar Letras, o primeiro parágrafo nada condiz com o segundo, mas creio com fé na Licença Poética e que ela um dia interceda pela minha liberdade da coesão e da coerência.
Querido diário, hoje é dia 3 de julho de 2012 e faltam 5 meses e 18 dias para o dito Fim do Mundo. Caso seja esse, de fato, o Dia da Vingança do Senhor, vou te falar, viu... Não me realizei por completo em meus sonhos terrenos, mas também não ficaria tão triste em conhecer o "mundo de lá"...

FIM

Expondo a discrição

"Não colocarei foto com meu pai no dia dos pais. Pra minha mãe, eu ligo. Afinal, não preciso expô-los para mostrar que os amo. Passei no concurso em primeiro lugar, mas pra quê alguém precisa saber? O interessante é o mistério - e torcer para que leiam o Diário Oficial. Sobre aquela viagem que NENHUM dos meus amigos facebookeanos fez, subindo o Kilimanjaro, não lhes darei ao luxo com minhas belas fotos - pra quê me exibir? Tem uma gentinha que vai ali em Buenos Aires e entope a minha timeline só de selfies e fotos de paisagem, sei como é chato. E nem preciso falar daquele lá, que faz questão de postar que vai todo dia à academia, nas poses mais escandalosamente ridículas, segurando halteres como se fossem cotonetes. Discutir política: que tolice! Meu voto é secreto, mas todos precisam saber que eu não voto em crente homofóbica. Sou a favor do Estado laico, mas não preciso expor tal opinião - a não ser que comecem a encher minha timeline de versículos bíblicos e de orações a Iemanjá: religião é coisa de gente ignorante, mas o budismo até que é legal (apesar de eu ser ateu). EU ME BASTO... não quero que me invadam, que ultrapassem minhas fronteiras - eu sou dono de mim! Curto páginas, sim, mas só aquelas em que vejo não ter nenhum amigo em comum. Aliás, tudo quanto envolve muita gente acaba perdendo sua qualidade (ou a graça). TODAS AS DECLARAÇÕES DE AMOR SÃO RIDÍCULAS. Não precisam saber do meu status de relacionamento, que eu me casei na praia, que eu estou na pista pra negócio ou que hoje é o nosso aniversário de 2 anos, 3 meses, 24 dias, 17 horas e... deixa-me ver... 35 minutos. Casais felizes me causam arrepios. E aos que me criticam por eu ter uma conta na caixinha de Zuckerberg, saibam que trata-se de uma exigência profissional (como se eu precisasse dar-lhes alguma satisfação), mas que não me impede de dar uma verificada (e uma criticada) na vida alheia no meu "raríssimo" tempo livre, quando não estou afiando minha singular inteligência".

Photo: David R Mata


- Você sabe que eu estou falando de você, meu caro amigo... E acho que o seu problema não é com os outros (dominados pelo terríííível sistema) - é com esse ser que você enclausura em seu próprio corpo. Quando pensa que não se importa com a opinião alheia... é aí que você se importa de verdade. Liberte-se de si! E aí depois você me liga.

28/08/2014


-apelo às celeumas da adjacência-

Querido vizinho do andar de cima, cujas terças-feiras são tomadas por acaloradas discussões filosóficas de uma espécie de confraria de cidadãos no alto de seus "-entas": por favor, leia este meu apelo, bem aqui do quarto andar (ou apenas tente usar suas habilidades telepáticas):

-Encontro-me em meio à elaboração de um artigo, ou ao menos na tentativa esforçosa, sobre um tradutor húngaro, que por acaso, o senhor, regente da sessão, aventurou-se em declamar aos seus pobres confrades umas abobrinhas no idioma do meu autor-objeto-de-trabalho, fazendo-me pausar, mais uma vez, meu fastidioso trabalho. Acho sobremodo interessante vossa preocupação com os linguajares, vossa filosofia astrofísica, vossa metafísica agnóstica e todo esse bla-bla-bla acropóleo que o senhor insiste tanto em declamar, a plenos pulmões, como se estivesse em uma arena helenística. Mas, por outro lado, considero excessivamente irritante o fato de que, às 23h de uma terça-feira do mês de agosto, os senhores não tenham aborrecidas senhoras esperando-lhes em vossos leitos majestosos, para que os façam desconfiar do infortúnio que causam a todos os demais residentes deste prédio de ter de escutar-lhes, involuntariamente, as subjetivas e abstratas palestras. Peço, encarecidamente, que não perturbem e nem mais interrompam meu raro fluxo criativo, que por acaso, neste ensejo, não se aplica a um mero distrativo, mas a um ofício requerido por minhas pesarosas atividades acadêmicas. Considero, de igual modo, interessantíssimo o fato de que o senhor tenha feito sua dissertação de mestrado acerca das inconsistências aristotélicas associadas à obra de um aiatolá-pra-lá-de-Bagdá (por isto, meus  parabéns), mas, enquanto seus companheiros lhe exaltam por tal feito, existe uma pobre coitada que também quer alcançar o tão almejado diploma de mestra e, para tal, necessita (ora-vejam-só) de vossa generosa colaboração para o cumprimento de suas obrigações. Meu conselho, para os nobres senhores da mais alta patente intelectual da nata brasiliense, é este (apesar de o senhor ter acabado de citar o gasto provérbio que diz que se aquele fosse bom, não se dava, se vendia): da próxima vez, procurem uma boa e velha mesa de botequim, de preferência, bem distante desta área residencial.

Grata,

Vizinha do andar de baixo.
05/08/14

-o único mal irremediável-



nossa família foi surpreendida por uma visita inesperada na última segunda-feira, dia 28 de julho. bateu logo à porta do filho mais novo de minha avó materna. dor sem tamanho. descumpriu o sentido natural da vida. ele suspirou - e com a visita partiu.
ela não cumpre os nossos horários.
não obedece aos índices de expectativa de vida.
não marca seu compromisso quando nos convém.

Suassuna, também por ela visitado dias antes, escreveu uma vez, sobre a nossa visitante:

"[ela] é o único mal irremediável, (...) a marca de nosso estranho destino sobre a terra, (...) fato sem explicação que iguala tudo que é vivo num só rebanho de condenados (....)"


mas a Alguém ela é submissa.
Àquele que nos conforta, consola e tem o controle de tudo em Suas mãos.



Desafio do ano: #umafrasepordia - Mais 100

De 12/04/2014 a 19/07/2014
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#101: centésimo dia encurralada no deserto milésimo décimo quarto esperando ter encontrado um oásis no trecentésimo sexagésimo quinto.
#102: "pra quê desperdiçar um sábado à noite gastando os olhos nos livros?" - disse o sujeito que ganhou na loteria.
#103: hoje é domingo/ dia do Senhor/ vou sair rua afora/ perguntando por amor
#104: quando estou nova, eu me camuflo/ quando crescente, procuro me aparecer/ quando sou cheia, todos me exaltam/ aí eu mínguo, para não ficar mal acostumada./ um dia eu me eclipso... e o enigma fica a todos intrigar...
#105: autoaplicar uma injeção de anestesia e fingir que não existe o dever... e que ele nem dói!
#106: reflexão conduz ao reparo da ação quando faltou reflexão
#107: antes do final eu desliguei o telefone: ele se rebelou e nem chama mais
#108: sexta-feira santa/em algum lugar lá fora o coro canta/eu que já não canto mais, só saio na hora da janta.
#109: não posso culpar a Deus por /eu ser quem eu sou /estar onde estou/ Que culpa Ele tem se do menu que me dá eu sempre escolha o prato mais indigesto?
#110: Ressurgir/Ressuscitar/Ressonhar/Recomeçar
#111: Deus me surpreendendo cada vez mais, provando que, de fato, Ele faz "infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou pensamos" - Gratidão
#112: retirando, um a um, os sonhos do papel.
#113: errar é humano; persistir no erro é suburbano - nunca mais pego um ônibus errado. Juro!
#114: alguns sustinhos que a vida dá para chacoalhar nossos ossos e manter-nos de pé.
#115: estranhamentos com a própria psiqué. diagnósticos, prognósticos... espero sair dessa logo, sem virar agnóstico!
#116: mixed feelings; como se sentir bem, quando os que você ama não estão?
#117: mergulhando no infinito de Yayoi, descobri que todos podemos fazer da loucura a nossa arte; nossa "obsessão infinita".
#118: a felicidade dos meus me deixa em paz com Deus.
#119: vinde vivei as verdades da vida
#120: o prazer de poder retribuir
#121: o céu/ o mar de Brasília/ me faz navegar/ nas nuvens/ e lá, meu porto/ e lá, meu cais.
#122: a paz e o prazer que só em família se pode ter...
#123: os outros viram estranhos/ o pertencimento fica despertencente/ hipertenso/ extenso/ chega perco o bom senso/ como é agitada essa vida de ausência!
#124: quem tem ouvidos para ouvir, ouça [os desabafos de dentro da igreja]
#125: [re]ceber[tri]unfar[bu]scar[ir] além...
#126: o ar faz falta/ o ar me faz falta/ ou é só a falta/ qu'ele me faz?
#127: preciso ser sincera/ sem sê-lo pereço/ preciso me encontrar/ em mundos paralelos
#128: agindo se faz/ você é capaz/ tudo é questão de atitude/ e de correr atrás
#129: estranho desejo esse de querer transportar o luar/ transportar o corpo/ transportar você/ e por a casa de volta no lugar
#130: desnudar a pele/tentando esconder a alma...
#131: observar o passar dos dias, das primaveras, das dores e flores, do amor e dos desamores, entender, enfim, da beleza que contém a efemeridade da vida...
#132: às vezes, não adianta lutar contra o corpo. se ele não quer, a mente também não há de colaborar - me entrego.
#133: dar o pontapé inicial: sem medo de falhar...
#134: tudo me é lícito/ mas nem tudo me convém/ melhor tirar do que tem muito/do que roubar quem nada tem.
#135: um café, um adeus e a fé que logo, logo, será eu.
#136: palmas pr'Aquele que não cansa de nos surpreender...
#137: descobrir que o importante é ceder. e pode ser recompensador. (compensa)(a)(dor)
#138: e depois: enxaqueca pode durar uma noite, mas o efeito do analgésico vem pela manhã!
#139: inquietações: nos inqomodam. mas nos impulsionam a MODIFICAR
#140: Café, Olhar, Tentar, Ir, Dizer, Inspirar, Agir, Nascer, Ousar...
#141: um brinde à amizade/ à loucura do ser/ aos mistérios do querer/ à semente da felicidade
#142: diante de tantos horizontes/ e de tantas possibilidades/ousar já não é opção: é necessidade!
#143: Felicidade é ter Alguém em quem confiar, Mesmo em momentos que parecem Impossíveis de achar solução. Levo no peito a melhor parte de mim: valor Imensurável, a maior representação do que é o Amor de Deus na Terra.
#144: sair da rotina, por mais que pareça a escolha mais incoerente do mundo, pode ser uma experiência muito agradável... :)
#145: descansar/ descansar/ sossegar/ sossegar/ parece que o cérebro não se conforma com a inércia e me castiga com a terrível ENXAQUECA. :(
#146: uns braços se abrem/ outros se encolhem/ os certos, os errados/ são os sábios que escolhem...
#147: quando cessa o efeito do remédio, a escolha é sua se vai deixar a lágrima cair.
#148: um dia me perguntaram se para ser passarinho tem que ter permissão do dono do céu...
#149: dos males, Malévola. furo no pneu, rombo no bolso.
#150: aponto para o sul/ vou para o norte/ nessa vida indecisa/ me resta contar com a sorte
#151: bebo um gole d'água/ tento decidir/ se há pouco nada no tudo/ ou pouco tudo no nada.
#152: o espírito sai da matéria/ e a observa, atento: será que me falta um pouco mais de mim?
#153: no alto da torre, onde o sol de esconde, a lua sorri... e eu soluço...
#154: renúncia/ mudança/ siga em frente/ e se não der, segue a dança...
#155: trocar figurinhas faz parte do processo de completar o álbum da vida
#156: todo dia é dia: de ensinar, de aprender, de tornar-se menos HUMANO (e mais DIVINO)
#157: é preciso amar as pessoas como se não houvesse RETORNO
#158: sentir-se bem: comigo, consigo, conosco.
#159: compartilhar a felicidade: quanto mais se dá, mais se tem.
#160: Meus dias ficam assim, Ocultos na rotina ordinária, Remindo o tempo, pois os dias Geram o mal, Abraçando o presente, Repensando o futuro
#161: falta tempo ou falta vontade? - falta a vontade do tempo.
#162: o sabor maternal da própria residência reside na máxima: "o original não se desoriginaliza".
#163: "nacionalizar para universalizar" || você janta e eu tomo café. o romance transpassa nos meridianos e prosseguimos na dança do (des)encontro.
#164: a lua a nos observar/ o baião a tocar/ não sei se é a lua que nos toca/ ou se é a música que nos observa...
#165: a prova de que eu estou viva: ainda cometo os mesmos erros...
#166: nessa ciranda/ eu sigo dançando/ quem entra, quem sai, pouco importa/ desde que a música continue tocando...
#167: em que universo ser normal é não ser louco?
#168: me diga, por favor, o quão necessário é mostrar que tem razão atirando no próprio pé?
#169: bom dia pra você/ que segue aprendendo/ que a maior prova de sabedoria/ é saber usar o silêncio
#170: subiu aos céus/ e está assentado à direita de Deus Pai/ mas também habita no meu humilde coração.
#171: deve haver um lugar em que os problemas não sejam solucionados com analgésicos e travesseiros
#172: seguindo, tentando, buscando, aprendendo, pra no fim, quem sabe, as portas fechadas se tornem janelas abertas e a sina incerta se torne o destino encontrado
#173: Deus/ que é Deus/ e que foi homem/ e também Deus/ escolheu/ um ser/ humano/ como eu/ só humano/ e não deus/ para servir/ de habitação/ - e fez divino - /o meu/ humano/ coração
#174: um propósito existe no meu berço geográfico, pois de todas as nações do globo, foi no seio verde-louro que do meu destino fez-se o traço
#175: passam dias/ passam horas/ noite fria/ quente aurora
#176: não fosse o amanhã, que dia [calmo] hoje seria
#177: tomei o barco no cais/ sem rumo e sem direção/ deixei o passado pra trás/ e o destino guiar o timão
#178: - o que lhe aflige? - a frieza das horas? - o calor dos dias? ((recomenda-se calma)) as engrenagens se aquecem e lá fora sopra a brisa...
#179: fosse o coração frágil como dizem, não haveria choque suficiente que ressuscitasse tanta amargura.
#180: como vai você/ ser humano qualquer/ reles mortal/ habitante da Terra/ aspirante do céu/ indiferente ao mal/ militante dobem/ alcança até onde dá pé/ no raso do saber/ no profundo querer/ não sei por onde sai/ nem como ao  pó retorno.
#181: sem querer/ procuro entender/ os mistérios da vida/ na escuridão do sono/ prenúncio da morte
#182: glórias e louros pertencem àqueles que pouco se importam com o terreno tesouro.
#183: já faz um tempo que eu me acostumei com o fato de não saber onde estou, por que estou, PRA QUÊ estou. e finjo que sei o que eu tô fazendo.
#184: só por que as rosas não desabrocharam no dia de fazer o buquê que o admirado vá rejeitar os botões... são flores...
#185: e por que não se entregar? arriscar sem medo de errar, encarar o deslize sabendo que haverá o dia de glória?
#186: abro e fecho os olhos/ arranco as folhas do calendário, o tempo escorre pelos dedos mas é imóvel no meu peito.
#187: e se eu pudesse contar as estrelas do céu, a areia da praia, todos os seres viventes, viveria de números. como sou carne, sangue e coração - e Deus sabe o que faz - vivo de letras.
#188: todo o bem que preciso; que sempre haja flores, que sempre haja pão, que sempre haja riso
#189: aquele que pensa estar em pé, cuide para que não caia - aquele que perde a bola do pé, não se admire com as vaias...
#190: a capacidade de usar do luto mais um motivo para lutar
#191: a vida é um carrossel - quebrado - quando miramos o futuro, voltam cenas do passado.
#192: submergir - submersão - encontrar-se - encontro - perdoar-se - perdão
#193: uma parte de mim - é vontade - outra parte de mim - é saudade - 'traduzir-se uma parte noutra parte - que é uma questão de vida ou morte - ' (é arte, é ofício e razão de ser)
#194: saturação e feijoada/ prece e indigestão/ conversas e amizades/ pizza e diversão/ e há quem diga que há espaço para a solidão
#195: um dia a rosa murchou/ o cravo, de solidão, morreu/ a raiz, porém, não secou/ e um solitário botão/ na primavera nasceu
#196: de grão em grão/ a hora passeia/ quando penso que não passa/ me afundo na areia
#197: Rezei dois terços - Escrevi mil preces - Acendi uma vela - Li o livro sagrado - Invoquei mais de mil anjos - Dormi de joelhos - Acordei ao pé da cruz - Desisti das ladainhas - Esperar é mesmo a única penitência aceitável.
#198: no meu jardim, as flores são belas. no meu coração, enfeito a casa com elas.
#199: meu lar é um abstrato concreto/ que nenhum arquiteto/ quis ousar desenhar/ meu lar é o meu peito aberto/ meu destino secreto/ onde somente eu posso entrar.
#200: felicidade: feliz a cidade/ feliz a idade/ fazer feliz quem lhe dá vontade.
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Contos de H. - 5ª versão


Às 17h35 ela vê boiando em uma poça no canto da calçada um caderninho de couro marrom. H. hesita em pegá-lo, mas sua curiosidade, talvez mais aguçada pela convivência com os gatos, a faz voltar atrás. Ela sacode o caderninho e as gotas que respingam mancham sua saia de linho branca. H. examina as folhas e percebe que a tinta está se desfazendo, quase perdendo as palavras. Então H. apressa o passo para chegar em seu apartamento. No processo entre destrancar a porta e desviar-se dos gatos estirados pelo caminho até chegar ao secador, H. imagina o que de tão precioso pode conter naquelas páginas, para deixa-la tão ansiosa para lê-las. Ela apoia o caderno na pia e vai secando folha por folha. E percebe que se trata de um diário. Estando o caderninho com as folhas já secas e duras, senta-se no sofá e inicia sua leitura:
Rio de Janeiro, 27 de outubro de 1972.
Havia 17 gatos vivendo no apartamento de H. 17, já que o gato mais velho que completava os 18 acabara de morrer. E H. está enlutada desde então. Todo dia às 9h acende uma vela a São Francisco. Diz que os 17 não suprem a falta que Frederico lhe faz. Mas ainda acho que isso ela diria de cada um deles. Ainda mais se fosse de Georgeana, a gata que junto com Frederico dera à luz a todo o restante da bichanada. No entanto, mesmo com Georgeana e os outros 16, H. ainda se sentia só.

Ficou órfã muito cedo. Morou com duas tias solteironas até atingir a maioridade. Aos 18 mudou-se para o centro e já podia se sustentar com o que ganhava como auxiliar em uma floricultura do cemitério local. Bem, ela podia ser jovem, mas não era tola. Apesar de ter seus lutos e traumas, escolhera conviver com quem partilhasse da sina de ter de sofrer a dor da perda. Sua vida cheira a crisântemo e vela de sétimo dia.

Aos clientes que entravam na loja, viúvas, pais e mães inconsolados e órfãos, como ela, H. servia uma xícara de chá de camomila com uma colherinha de açúcar refinado, para tentar adoçar-lhes a amargura das lágrimas. Quando entrava uma moça que também perdera os pais, H. oferecia um botão de rosa branca, por sua conta. Queria ter tido a chance de enterrar a mãe. Era muito pequena na ocasião de sua morte. Mas o antigo perfume que sentia em seu abraço ainda permanecia preso no olfato da memória.
Frederico era o nome do meio de seu pai. Por isso, no enterro do gato, sentiu cumprido o seu dever.

No fim do dia, H. volta ao seu refúgio. Dá de comer aos gatos, lava as louças, põe-se à mesa para jantar. Às 19h, senta-se à janela e, observando o mundo lá fora, imagina novas possibilidades para sua própria história. Até que o último "e se..." a faça adormecer.”

H. fecha o caderno, atônita. Vai tomar um banho, faz um chá de capim-cidreira, dá de comer aos gatos. E às 19h senta-se à janela, tentando descobrir quem poderia querer escrever sua própria história.

contradições

Esse post é uma resposta a este aqui.
______________________________________25/03/14____________________________

Uma vez eu disse não querer
Afirmei com veemência o mal-te-quero
Não digo que mudei de ideia
Mas digo que me rendi.
Não dispondo da bússola mágica que nos aponta ao certo
Resolvi pegar o rumo duvidoso
Ignorar as estrelas que me fascinam
-Ah, me esqueci do cruzeiro do sul
E entrei de gaiata no navio
Para cumprir um sonho indireto
Com teorias diretas
Num dossiê de indiretas
O qual tenho de me adestrar a compreender - e elaborar.
Questiono o preço da felicidade
E se o esforço tem valor
Peço direção a estranhos
A fim de não me perder no mar de gente
Nesse cardume acelerado e ritmado
Do qual eu tento fazer parte
Mesmo que com pequenas barbatanas
E as brânquias gastas
Tomo gosto pelo café,
Outrora um aliado, agora passa a ser elemento essencial para o cumprimento de minhas funções intelectuais - e motoras
Tento limpar as pedras que eu enxergo no caminho,
Provando que é possível a travessia,
No entanto falho em achar a vassoura.
Ou está muito bem escondida - atrás da porta, suponho, espantando visitas - ou está em mãos alheias, expulsando as pedreiras dos deles e ajuntando-as no meu [caminho].
E não entendo essa dinâmica velociráptica dessa vida TITULAR.
Um dia eu desdenhei, como quem prova o fel após um cozido de jiló, jurei de pé junto que jamais o faria, mas no conflitante contexto dos desprovidos de bússola, dos desprovidos de berço, dos desprovidos de capim a dar aos burros, vejo-me sem escolha, a não ser mergulhar de cabeça, cair fundo nesse mar - esse mar de gente titulada.
Disse que não te queria
Disse que não queria teu café
Disse que não queria gastar os olhos
Disse que não queria atrofiar os punhos
Disse que não queria um título
Disse que não queria crachá,
Placa dourada na porta,
Noites mal dormidas
e-mails a responder
Disse que não te queria - de jeito nenhum!
Disse que não queria ser doutora
Sem antes ser doutora de mim.
Mergulhei no mar. Mergulhei no teu mar.
E o que eu espero no final é apenas isso, ACADEMIA:
Que eu consiga chegar à superfície...
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feriado diferente esse. não vou à igreja, a retiro nenhum. sem rituais, mandingas, procissões e romarias. sem penitências. afinal, que tipo de cristã seria eu? também não comprei chocolates [não pelo não-querer] - então não me enquadro também no núcleo dos que votam em branco. pelo contrário - reflito.

penso sim no sacrifício, penso na loucura que é, que foi e tem sido. por um instante, lembro-me das artes em vitrais nas capelas, catedrais, basílicas, nessa arte que representa o sofrer e o provoca em quem olha. aquelas imagens dos artistas da tal arte sacra, da cruz pesando no dorso do pobre homem de barbas longas e escuras. nesse momento, numa fração de segundo, o vitral se quebra e me fere, e dói.

a coroa de espinhos que atravessavam-lhe a pele faz jorrar o líquido carmesim. ele não jorra, afinal, ele escorre, lentamente, caindo-lhe por sobre os olhos, a boca e pescoço. e então, olho para a palma de minha mão, tão alva e ao mesmo tempo demarcada em territórios, perpassados por linhas tortas arroxeadas e verdes e azuis - e pelo sinal de nascença que a distingue da destra que escreve. imagino um prego enferrujado perfurando-me, lentamente, penetrando e violando camada por camada, tecido a tecido, revelando a ponta afiada no lado oposto em que pousam as unhas. de pensar nisso, me dói. penso no sangue que me escorreria, nas doenças se alastrando do prego para meu corpo.

olho para os meus pés, tamanho 34, tão incoerentes, na sua cor arroxeada de tanto sustentar-me o peso, e os imagino, cruzados, unidos por outro cravo sujo e enferrujado. sinto, por um instante, um formigamento se agitar nas veias, como se abrissem o caminho para a invasão de seu algoz. as marteladas quebram-lhe os ossos, trincando, esmagando, colando-os no madeiro. cedro, carvalho, de que será? - não importa a qualidade do material.
meu corpo não suportaria tamanha violência. questiono-me da capacidade do ser humano de sobreviver à dor [à dor, não ao ferimento, este sim, que o mata].

"por que não desces da cruz, tu, que também és Deus?"

imagino-me [e me recordo] ouvindo alguns insultos, minha reação imediata: os dentes rangem, a mandíbula estala, o punho cerra em resposta. as veias saltam nas têmporas, o olho começa a encher. a pele branca revela a cor do sangue. e, quase sempre, as frases mais imundas vão passando entre os dentes.

"Ele, porém, não abriu a boca, como um cordeiro (...)"

eu reconheço que não serviria para essa missão, eu, por que eu, eu que não sou santa e às vezes nem humana?

a loucura da cruz - a loucura do homem que morre pela humanidade, esta que se mata e lhe nega... ironia.
a loucura de quem crê, quem crê que um homem passou pela terra sem pecar, e era Deus, e era meu irmão, amigo, pai, conselheiro e o caminho e a verdade e a vida.
essas loucuras que existem para confundir as coisas sábias...
planos de um Deus que tudo pode e tudo sabe e em todo lugar está.

milhões de fiéis hoje se reúnem; comem peixe, beijam a cruz, partem o pão asmo. uns leem a bíblia, a torá. uns celebram a vitória sobre o egito, outros a vitória sobre a cruz. e tem a menina que fica a observar tudo isso e a sofrer dores que não lhe pertencem, só para tentar entender os mistérios dessa passagem.

não nasci para morrer na cruz
nasci por que alguém o quis fazer
alguém a quem negligencio, muitas vezes, tentando entender a sabedoria dos homens lógicos.

não há como evitar o pesar no peito e o bolo na garganta ao pensar nessa data. em quem me fala e faz acordar todos os dias, me fazendo lembrar de que é melhor viver com essa loucura... 
não compete a mim sentir essa dor; tudo já foi feito.

"está consumado".

nessa sexta feira da Paixão, Ele me ensina sobre o Amor.


Desafio do ano: #umafrasepordia - As 100 primeiras

De 1/1/14 a 10/4/14
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#1 - a vida: um recomeço a cada 365 dias.
#2 - engolindo a seco a noção de solidão.
#3 - como é amarga e doce a sensação de que o futuro ainda está longe.
#4 - suspirar, sorrir e aceitar: viver tudo o que há pra viver; permitir-se!
#5 - domingos estão para a semana assim como a vida terrena para a vida eterna: o começo reside no fim.
#6 - a ilusão de que girar o relógio ao contrário vai mudar o presente.
#7 - no sétimo dia Deus descansou. E logo em seguida foi trabalhar outra vez.
#8 - o oito é um infinito sóbrio.
#9 - e quando eu fiz a prova dos nove, apercebi-me da minha dificuldade com os cálculos.
#10 - sempre haverá alegria por trás de uma sexta-feira.
#11 - às vezes temos o dobro de talento... mas só os simples são os primeiros.
#12 - às vezes chove no dia de sol.
#13 - se superstições fosses relevantes, a minha comida teria muito menos tempero.
#14 - a ilusão de vestir roupas que não são suas, para ir a um lugar que não é seu, para ser quem não lhe pertence.
#15 - quando uma fenda se abre e surge a incerteza do melhor lado a se escolher.
#16 - por o pé no chão e sentir que a terra dali é que te pertence.
#17 - experimentar o amor na pequeneza de um gesto - e perceber que existe a sorte.
#18 - o amor é uma flor roxa: com a falta de cuidado, vai-se o colibri. / lágrimas salgadas temperam o rosto para o banquete da sina.
#19 - todo dia é dia do Senhor. até quando não se vai à igreja.
#20 - as palavras: por ora fogem da possibilidade de sofrer a materialização dos devaneios.
#21 - o sono beijou-me as pálpebras antes que eu pudesse ajeitar o pescoço. acordei traída e com torcicolo.
#22 - boa ação do dia [que pode servir para toda vida]: alugar os ouvidos sem cobrar.
#23 - deixar a música ocupar os quartos vagos e te levar à sala para dançar.
#24 - lançar-se nos braços do amor... sem medir consequências... e deixar-se viver!
#25 - paciência, temperança, e alguns tapas na cara...
#26 - inspira. expira. o descontrole pode te deixar sem ar. e lhe custar um pneu furado.
#27 - somos tão escravos da inércia e do dinheiro e da falta dele e o senhor supremo sempre será... o orgulho!
#28 - aproveitar cada segundo como se fosse amenizar a saudade.
#29 - estender a mão ainda que não exista o alcance.
#30 - os sacrifícios por amor se iniciam pelos lábios.
#31 - a velha e intraduzível sensação do bittersweet. mas que vale a pena sofrê-la.
#32 - Bliss: ter a certeza de que está no lugar certo.
#33 - salgadas são as lágrimas. amarga a saudade. azeda a distância. doces as lembranças...
#34 - lavar o rosto e encarar os desafios da REALIDADE.
#35 - nós traçamos nosso caminho. vem a vida e muda todas as rotas.
#36 - crer que o futuro existe; entender que nele não cabe nossa vã cronologia.
#37 - perceber que nós somos os primeiros a girar a chave do que nos aprisiona.
#38 - nada pior do que sair na sexta-feira e perceber que não deixou a jaula em casa.
#39 - existem coisas piores que a solidão. não poder escolhê-la é uma delas.
#40 - na casa de Deus/ na casa de Deus eu encontro paz/ na casa de Deus eu encontro segurança/ na casa de Deus eu encontro veias e artérias/ tecidos e órgãos/ células infinitas/ e um coração/ onde Ele habita.
#41 - a serviço da distância estão meus lábios cerrados, meus sonhos guardados, meu tesouro velado, meus olhos cansados e um coração apertado.
#42 - o requisito básico para ir a um bom café é a ausência de relógios. se estiver com a agenda apertada e tiver vontade de parar para um café, eis meu conselho: não o faça.
#43 - observar os aviões e esperar a sua vez de voar.
#44 - perseverança e persistência permanecem/ medo e morbidez perecem.
#45 - a união faz a força. a solidão faz a forca.
#46 - "tenho vida, alegria em todo tempo/ tenho amigos, família, muitos irmãos/ foi Jesus, o amigo verdadeiro/ que fez tudo ao me dar a salvação" - Gratidão.
#47 - o amor sempre sendo a mola-mestra que nos força a estender a mão...
#48 - sabendo que não tinha tempo, foi lá e nem fez...
#49 - toda a dor que a ciência provoca por não haver teletransporte.
#50 - entrando em milhares de labirintos para tentar se encontrar.
#51 - férias que se resumem ao nada.
#52 - toda dor que uma mudança de planos pode causar.
#53 - sentir-se um peixe fora d'água... e depois pensar que a vida é melhor fora do aquário...
#54 - perceber que ceder às aversões pode ser agradável
#55 - aos poucos entender que o regime de rancor é um auto-flagelo. e ficar feliz com a existência da cura.
#56 - e aí você descobre que é alérgica à ansiedade.
#57 - indignada: até na família mais moderna reina quieto o provincianismo.
#58 - todos os sacrifícios pelo bem das amizades valerão a pena.
#59 - saudade, nostalgia, incertezas... aperitivos para o banquete da loucura.
#60 - bem. apenas bem. sabendo que ser apenas bom e estar apenas bem não é boa coisa.
#61 - imaginando todos os possíveis lugares para estar e escolhendo o mais inerte deles.
#62 - quando e somente quando amamos uma segunda-feira.
#63 - o triste sabor de estar em casa e não se sentir em casa...
#64 - lançando sortes percebi que sou melhor lançando temas de amor.
#65 - nada pior do que ser senhor da própria escravidão...
#66 - por menores que sejam, as pequenas janelinhas que se abrem na nossa masmorra trazem luz suficiente na falta de esperança.
#67 - "não há melhor lugar que o nosso lar. não há lugar como nosso lar". mais uma vez: "não há lugar como nosso lar". não entendi!? "não há lugar como o nosso lar. não há lugar..."
#68 - família, família. o início, o fim e o meio. de onde mais corremos, para onde mais recorremos.
#69 - stresses e conflitos fisiológicos para lembrar-nos de que estamos vivos.
#70 - dos males, as malas por fazer...
#71 - respirar novos ares aspirando novos pensares.
#72 - "vão-se os anéis, ficam os dedos..." que sorte tenho por ter dedos!
#73 - chuva para molhar a cidade/ chuva para afogar os planos na vontade...
#74 - conhecer novos lugares; me livrar de alguns pesares; respirar Buenos Aires.
#75 - a força da luz, uma vez enfraquecida, requer de nós todo esforço que, por nós, dela é requerido.
#76 - aquele jet lag que dá quando pousamos na realidade.
#77 - o último dia e a agonia de não saber quando virá a próxima calmaria.
#78 - o primeiro dia do turbilhão de inconstâncias e incertezas.
#79 - respira, inspira. mentaliza. toma um gole, conversa com os amigos. chora pela incerteza. mas sorri.
#80 - ver o quanto pode sair quando abrimos a nossa caixa de Pandora particular.
#81 - inércia perseguindo-me nesse mundo astrofísico/ a gravidade da preguiça me puxando para o centro/ adiantando meu relógio/ atrasando minha vida.
#82 - onde estou e para onde vou // são questões que a mim me competem // mas que necessariamente não sei quais respostas.
#83 - ignorância: uma dádiva...
#84 - filmes que tocam e atiçam, aguçam, inquietam. filmes que traduzem a vida.
#85 - terror e pânico: reabrir sua vida de braços e pernas cruzados. e perceber: nem tudo é tão profissional quanto parece...
#86 - perceber na vida e no dia-a-dia as mil e uma maneiras de estender a mão.
#87 - Bliss: olhar em volta/ olhar pra trás/ olhar pra frente... Puxa. Eu sou feliz.
#88 - na falta de uma companhia, sou mais marcar um encontro comigo mesma.
#89 - atirar cento e poucas flechas para ver se uma a gente acerta...
#90 - adultério: em um relacionamento aberto com a inércia; flertando com a inconstância; dormindo com a incerteza.
#91 - between a white lie and a "black" true, I choose a gray silence.
#92 - reencontros/ sabores/ prefiro desencontros/ do que falsos rumores.
#93 - a chuva/ a agenda/ os prazos/ as perdas/ os ganhos/ os desabafos/ a vida...
#94 - cada um sabe a dor do juízo perdido/ da palavra ignorada/ do paladar impedido/ da saudade acumulada.
#95 - todo mundo espera uma coisa boa de um sábado a noite. em caso de dor de dente, as possibilidades são remotas.
#96 - eu chorando/ você sorrindo/ seria angustiante/ se hoje não fosse domingo.
#97 - imaturidade inacreditável/ imbecilidade inimaginável/ paciência insustentável
#98 - de volta à rotina das olheiras/ retomando a amizade com a madrugada/ já no início da jornada.
#99 - quando quiser falar com Deus, faça-o como quiser. Apenas use o coração, Gil...
#100 - aí chega um momento em que você liga o "I don't care" e desliga o cérebro for the sake of inner peace...
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H. (4ª versão)

Havia dezessete gatos vivendo no apartamento de H. Oito deles dormiam na sacada, junto aos vasos de violetas mofadas e à rede de malha branca. Eles brincavam com as gotas que caíam do toldo azul que protegia a sacada e, por vezes, seus arranhões na lona davam vasão a novas goteiras. H. não se zangava. Em noites de chuva, aproveitava a artimanha dos gatos e punha as violetas para molhar. Mas não chove tem 52 dias. Quando as gotas aparecem, são da vizinha de cima que lava sua sacada religiosamente às sextas-feiras.
Cinco gatos dormem na sala de estar. O sofá amarelo já sujo e rasgado, vítima das unhas afiadas dos bichanos inquietos, confere à sala um ar melancólico – lembra-lhe sua mãe. Escolhera a cor amarela para o sofá porque dizem que amarelo alegra o ambiente. Para H., no entanto, essa teoria não funcionou. No raque mogno, uma velha TV quebrada. Um vaso solitário comporta uma rosa de plástico. O tapete de H., já com falhas e rasgões, foi encontrado no quarto dos fundos da floricultura onde trabalha. Infelizmente, não combina muito com o sofá, mas dá para o gasto. Agora, os buracos no tapete são bem preenchidos com pelo de gato. H. não se importa em limpar, uma vez que não é alérgica.
Dois gatos de H. gostam do banheiro. É lá também que H. coloca a caixa de areia deles. Parece ser um tanto inconveniente, mas H. não se importa em dividir o espaço de sua higiene com seus bichanos. Os azulejos são originais, lembram um pouco a arte portuguesa, reunindo pinceladas de azul royal com o amarelo ocre. Enquanto escova os dentes de fronte ao espelho enferrujado, H. gosta de imaginar rostos nas manchas dos azulejos. Até agora, cinquenta e sete rostos estão presos nas paredes. E os gatos ronronam na banheira. Banheira que, a propósito, H. nunca usou – e nem tem interesse. Teme que algum dia possa ali ser encontrada já sem vida, como sua tia Margot. É por isso que a cortina da banheira é listrada de verde.
Por fim, os outros dois gatos que restaram, como já se pode imaginar, dividem a cama de casal de H. Feita com madeira-de-lei, a cama foi um achado da loja de móveis usados perto do cemitério. Dizia o vendedor que pertencia a um rico barão de São Bartolomeu, por isso as iniciais cunhadas na cabeceira. H. não se importava com a origem da cama, apenas com a serventia. Trocava os lençóis de cetim todas as quintas-feiras, lençóis que também eram marcados pelas unhas dos gatos. Mas H. só gostava de cetim. O armário de H. mais parecia uma cristaleira, deixando os velhos vestidos, que também pertenceram à sua mãe, à mostra pelos vidros. As cortinas eram de gaze de linho e, por vezes cediam aos raios de luz. No criado mudo, o velho retrato de sua feliz família. Sua mãe, fingindo um sorriso; seu pai, com um ar áspero e bem alinhado; e o bebê H., no colo da mãe, que não tecia expressão alguma. Era ali, no quarto obscuro, que H., vez ou outra, molhava com suas lágrimas o travesseiro – e jurava ser feliz.
O apartamento de H. cheirava a ácaro, caixa de areia e solidão. O sol batia apenas duas horas por dia. As portas rangiam de velhas, a torneira da cozinha pingava impacientemente, a velha geladeira ecoava seu som pelos cômodos. Poderia ser cenário de uma tragédia. Mas H. não nega que sua vida seja uma.

PALAVRAS

Brasília, 17 de março de 2014


QUESTÕES
INFINITAS
horas
invertidas
ILUSÃO
LÍQUIDA
inquietação
duvidosa
SOLUÇÃO
VAZIA
proposta
indecorosa
OPORTUNIDADE
INOPORTUNA
sistema
inoperante
INCERTEZA
GRÁTIS
felicidade
comprável
DISTÂNCIA
MÓVEL
tempo
infindo
MORTE
DEFINITIVA
momento
incerto
ACERTO
IMPROVÁVEL
erro
comum

Pequenos intervalos

- pequenos intervalos não me bastam. - já são pequenos. Qual é a diferença entre a vida real e o intervalo? Sim, eu bem sei qual é, mas quando a vida real não nos parece mais atrativa, os intervalos com os quais nos presenteamos serão sempre pequenos.

minha questão é esta: até quando ficarei me contentando em ser feliz nos intervalos? O que que eu tô fazendo com minha v(ida)? Será que tudo isso vale a pena?
Sim, é muito mais que uma questão; são dúvidas que se proliferam em grandezas exponenciais e eu nem sei como controlá-las - soluções vazias.

Se existisse uma maneira de virar a mesa, desembaralhar as cartas e colocar tudo no lugar, enfim... se existe, a mim não me foi apresentada.

quero que a vida seja meu escape... e que os intervalos sejam aqueles momentos que compõem a amargura e o azedume que temperam o existir... Mas que o doce seja sempre a prioridade no meu paladar...

LT

H. (3ª versão)


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Hélia, Helena, Heloísa... não. “H.” só pode ser abreviação de holocausto! Porque em toda a história da historiografia nunca jamais houve garota mais azarada. Humilhada, talvez lhe fosse o nome. Mas nem aqui, nem no Haiti pude me deparar com garota tão odiada pelo horóscopo.
Órfã de pai e mãe, a vida lhe pegou de um jeito horrendo. Das lembranças, só sobraram os hematomas. Não sei se a pobre habitante daquele apartamento com aquele tanto de bichanos poderia sobreviver a tamanha humilhação vinda da própria vida.
As tias que lhe acolheram não passavam de duas hipócritas. Não hesitavam em desviar os poucos mil-réis de seu pai deixara de herança. E no domingo estavam santas e puras tomando a hóstia. H. não podia mais viver nesse ambiente herético! Mal podia cometer um mero deslize que já era tido como hediondo, por mais inofensivo que fosse – e logo pegavam o hissope para aspergir-lhe água benta. A hóspede, inconformada, deu um basta com a chegada da maioridade. Sabia pois, que era a herdeira de direito.
Não podendo manter aquela habitação sozinha, H. decide arranjar um trabalho. Escolheu conviver com hidrângeas, hortênsias e heléboros. Serve chá de hortelã aos clientes que a procuram para honrar seus mortos. Ao cair noite, quando sol se põe no horizonte, ela volta para casa cantarolando, num hilário descompasso, um hino harmonioso. H. assim cumpre seu horário, de modo religioso e hebdomadário.
E é em seu apartamento, universo quase que hermético, que nossa heroína põe-se a lamentar sobre a própria história. O que é hesterno, a H. pouco lhe importa. Vive do que for hodierno e aguarda o futuro sem histeria ou ansiedade – para uma moça que vive sem pressa, a vida acontece em doses homeopáticas.

aracnofobia

precisa-se de terapia
não durmo mais como antes
dezesseis pernas se arrastam na minha cabeça
por que tão de repente?
esforço-me em entender sua filosofia de vida
suas teias de morte
náuseas, vômitos, insônia
presa estou com este veneno
-antídotos-
prós, contras, desejo, vontade
-comodidade-
a pele fica irritada - o cérebro
quero livrar-me dessa obsessão
quero expulsá-las de mim
sem matá-las
-mas matam-me primeiro

***
sua teia em minha pétala
seu veneno em minhas veias
morro em doses - homeopáticas
a raiz se vai murchando
suas pernas tecem habilidosas
a teia que me aprisiona
talvez a paz
seja ousada demais
quanto mais me giro
mais difícil me livrar
sina... a sina do proibido.
amor e morte
liberdade e armadilha
dançam juntos
na melodia
-aracnobotânica-
e me morro a cada dia


quantos anos cabem em 365 dias?

e foi caverna e foi luz e foi luto e foi luta e foi corpo velado e foi sorriso velado e foi vela no bolo e outra no caixão e mais uma, e mai...