é fácil falar que todos têm as mesmas oportunidades quando se está numa posição confortável na cadeia antropofágica. quem garante a carne não precisa se preocupar com o capim no mato - os burros o comem.[...] a nós, os burros, nos restam as tarefas e as ordens. acho-me ousada em querer pensar. em tentar diploma. quem é rico não precisa chorar ao pensar no amanhã.
[...] a eles, os brócolis, a nós, o capim.
coisas desmoronam ao redor enquanto penso. nem me dói quando o concreto me atinge, vez ou outra. me dói pensar em como reconstruir algo que mal existiu. o ensino dessa engenharia é ofertado a uns poucos. não aos asnos capinófagos.
[...] observamos, interrogativos, a glória dos outros: como conseguem? gozamos de uma alegria que não nos pertence. comemos, brindamos, bebemos e depois lavamos os pratos.
[...] meus olhos se cansam. um nasce, outros morrem - VIDA? ora, vida é o meio. viver me castiga a carne. por que com cérebro? por que pensante? questiono. e quando virão as exclamações? - "pau que nasce torto nunca se endireita".
[...]
[...]
[...]
[...]
para o burro, nunca lhe falta um dever. deve ser burro, deve agir como burro, servir como burro, pensar como burro, comer o que lhe resta, morar como um burro merece, contentar-se como um burro, parir outros burros para que o trabalho nunca se encerre.
sempre haverá o burro, sempre haverá o capim. há burros mais burros que outros.
LT