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H. (3ª versão)


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Hélia, Helena, Heloísa... não. “H.” só pode ser abreviação de holocausto! Porque em toda a história da historiografia nunca jamais houve garota mais azarada. Humilhada, talvez lhe fosse o nome. Mas nem aqui, nem no Haiti pude me deparar com garota tão odiada pelo horóscopo.
Órfã de pai e mãe, a vida lhe pegou de um jeito horrendo. Das lembranças, só sobraram os hematomas. Não sei se a pobre habitante daquele apartamento com aquele tanto de bichanos poderia sobreviver a tamanha humilhação vinda da própria vida.
As tias que lhe acolheram não passavam de duas hipócritas. Não hesitavam em desviar os poucos mil-réis de seu pai deixara de herança. E no domingo estavam santas e puras tomando a hóstia. H. não podia mais viver nesse ambiente herético! Mal podia cometer um mero deslize que já era tido como hediondo, por mais inofensivo que fosse – e logo pegavam o hissope para aspergir-lhe água benta. A hóspede, inconformada, deu um basta com a chegada da maioridade. Sabia pois, que era a herdeira de direito.
Não podendo manter aquela habitação sozinha, H. decide arranjar um trabalho. Escolheu conviver com hidrângeas, hortênsias e heléboros. Serve chá de hortelã aos clientes que a procuram para honrar seus mortos. Ao cair noite, quando sol se põe no horizonte, ela volta para casa cantarolando, num hilário descompasso, um hino harmonioso. H. assim cumpre seu horário, de modo religioso e hebdomadário.
E é em seu apartamento, universo quase que hermético, que nossa heroína põe-se a lamentar sobre a própria história. O que é hesterno, a H. pouco lhe importa. Vive do que for hodierno e aguarda o futuro sem histeria ou ansiedade – para uma moça que vive sem pressa, a vida acontece em doses homeopáticas.

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